Hoje em dia há muitos estilos de fotografia de casamento, cada um com as suas características e adequado a diferentes noivos e tipos de casamento. Mas como escolher o estilo ideal para si?
Quem não estiver a par dos estilos de fotografia que têm vindo a aparecer nos últimos anos, poderá pensar que a única diferença de há 20 anos para cá é a passagem do filme para o digital. Não poderiam estar mais errados!
Abordei noutro post (“porque é que os fotógrafos de casamentos são tão caros“) a razão pela qual a transição da fotografia analógica para o digital provocou uma autêntica revolução na fotografia de casamento. Uma das consequências foi a especialização de muitos fotógrafos em diferentes estilos de fotografia. Hoje quero abordar um pouco estes estilos!
Lembrei-me de escrever este post no seguimento de um convite que tive da ZankYou para falar acerca do meu estilo de fotografia – “ZankYou: Quatro estilos de fotografia que vão dar que falar: consiga as melhores fotos que captam a magia do seu grande dia“.
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Estilos de fotografia de casamento – o que são e porque são importantes
Tenho uma relação de amor-ódio com categorias! Por um lado acho que é redutor – e até certo ponto perigoso – dividir um tema e colocá-lo em caixinhas. Corremos o risco de nos tornar inflexíveis e olhar para este temática como preto e branco, quando na realidade tem muitos tons de cinzento. Por outro lado, definir vários estilos permite-nos explicar as diferenças entre cada um e assim perceber o grau de heterogeneidade que existe hoje na fotografia de casamento.
Vou então arriscar e sugerir alguns estilos de fotografia, não só porque se encontram no mercado mas também porque eu já os fotografei. Vou deixar de fora outros estilos fotográficos que, embora sendo relevantes, têm a meu ver menos expressão na fotografia de casamento, como por exemplo fotografia analógica ou aérea.
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Estilo Tradicional
O estilo tradicional é muito amplo e como tal bastante difícil de definir. Enquanto que algumas fotografias são obviamente tradicionais aos olhos de muitos fotógrafos, outras poderão não o ser.
Para ajudar na definição, olhemos para trás no tempo. Há 20 anos atrás o estilo de fotografias de casamento era bastante mais uniforme do que é hoje, tanto que eram poucos os fotógrafos que se destacavam por terem um estilo único. Parte da razão para isso acontecer é que a fotografia de casamento era, regra geral, apenas mais um serviço oferecido pelas lojas de fotografia. Quando alguém queria um fotógrafo para o seu casamento ia à loja de fotografia local, não à Internet como hoje em dia. A concorrência era local, entre as várias lojas de fotografias existentes numa determinada área.
Mas a menor concorrência não era a única razão para haver um estilo padronizado. Também permitia que cada loja de fotografia tivesse várias equipas, que assim poderiam fotografar vários casamentos no mesmo dia. Este estilo fotográfico tinha que ser de fácil execução para assegurar os resultados. Em cima de tudo isto, lembrem-se que os rolos só permitiam tirar 36 fotografias e não havia um ecrã para confirmar se tinha ficado bem. O advento da fotografia digital veio permitir mais disparos (ou seja, mais experimentação) sem que isso aumentasse o custo da reportagem.
Este estilo tradicional existiu durante décadas e só há aproximadamente 15 anos é que as primeiras máquinas fotográficas digitais começaram a ser usadas para fotografar casamentos em massa. Muitos fotógrafos continuaram a usar as máquinas digitais tal como usavam as analógicas anteriormente, outros que surgiram entretanto adoptaram esse estilo. Por esta razão, continua a haver ainda uma grande componente de fotografia tradicional no mercado. Comprovei isto mesmo quando, em Março de 2021, fiz um estudo do mercado de casamentos juntamente com outros profissionais do sector. Na altura contactámos literalmente centenas de empresas da área e, no caso dos fotógrafos, houve muitos que aos meus olhos mantinham uma componente tradicional.
Eu próprio tiro algumas fotografias de estilo tradicional em todos os casamentos que fotografo. Ao falar com colegas da área, vejo que é norma fazer algumas fotografias deste estilo. As fotografias com os convidados, de pose, são um exemplo perfeito. São fotografias que eram tiradas “antigamente” e que ainda se tiram, porque a meu ver são importantes!
Este é um ponto que acho ser muito importante – há fotografias de estilo tradicional que são importantes tirar. Importantes e intemporais! Tenho cada vez mais noivos que me pedem para não tirar essas fotografias, porque de facto chegam até mim pelo estilo documental e não querem ser incomodados com poses. No entanto, recomendo sempre que tiremos uma fotografia de grupo ou com a família mais próxima. Tive casamentos em que os noivos não quiseram tirar estas fotografias, para mais tarde se arrependerem.
A questão que se coloca é quantas destas fotografias de estilo tradicional queremos ao longo do dia.
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Sinto este legado da fotografia tradicional constantemente. Acontece-me em todos os casamentos que, ao fotografar a interação entre os convidados, eles se apercebem que estou a apontar a câmara e param de interagir para olhar para mim e sorrir. Ou uma amiga da noiva vir ter comigo para pedir uma fotografia de pose, daquelas que viram “no pinterest”. É o tirar da fotografia em prol da fotografia, não em virtude de um processo criativo do fotógrafo (isso seria fotografia editorial) mas porque os convidados acham que vai ficar giro.
Estas fotografias “pedidas” são as que menos gosto de tirar, mas nunca deixo de o fazer. Sei que o cliente vai gostar de as ter, por isso tiro, edito e entrego!
Vou também incluir (alguma) fotografia de pormenores como estilo tradicional. Se bem que algumas destas fotografias estão a meio caminho do Fine-Art. Por exemplo, a fotografia do vestido pendurado era gira há 10 anos atrás, porque era diferente. Entretanto todos os fotógrafos parecem fazer esse tipo de fotografia, por isso considero que já passou para o domínio da fotografia tradicional. O mesmo se aplica a outras fotografias de pormenores dos sapatos, alianças, fato do noivo, bouquet e todos aqueles que não incluem um processo criativo na fotografia. A meu ver pendurar um vestido em frente à janela não requer muita criatividade. Mas por vezes requer um bocado de fita adesiva ou cordel!
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Abaixo deixo duas fotografias interessantes, por serem parecidas mas por estarem perto de pertencer a categorias diferentes: a primeira é uma fotografia tipicamente tradicional, daquelas que se oferece aos avós numa moldura (querem mais tradicional do que isso?). A segunda já começa a ter indícios de editorial.
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Espero que este ponto mostre que a fotografia tradicional não deixa de ser importante. Com isto não quero dizer que todas as fotografias que eram norma há uns anos atrás têm lugar hoje em dia. Por exemplo, já todos vimos fotografias da noiva deitada em cima da cama com o bouquet na mão e iluminada com o flash directo. Esse e muitos outros exemplos são um tipo de fotografia tradicional que não faz sentido existir hoje em dia, para a minha sensibilidade fotográfica, mas continua a existir no mercado.
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Estilo Editorial / de Autor / Fine-Art
Vou simplificar, juntando várias designações dentro de um só grupo: a fotografia editorial, de autor e fine-art. Todos estes estilos de fotografia de casamento têm uma base em comum: há a preocupação em fazer uma fotografia bonita, derivada de um estilo fotográfico próprio que foi desenvolvido pelo fotógrafo ao longo do tempo e através de muita tentativa e erro.
É um estilo que tem ao seu dispor várias ferramentas: locais bonitos, poses interessantes, luz natural ou artificial bem estudada, uso de filtros criativos, maior controlo sobre o enquadramento, pós-produção cuidada. Neste tipo de fotografia tipicamente não existe um “momento irrepetível” a fotografar.
Mais abaixo estão algumas das fotografias editoriais/de autor que fui fazendo ao longo dos anos. São fotografias bonitas e com muito impacto visual! Por outro lado, são fotografias que poderiam ou não ter sido tiradas no dia do casamento, por isso não têm aquela importância de serem fotografias “únicas”.
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Para ilustrar o meu ponto anterior, algumas das fotografias acima foram tiradas no dia do casamento, outras não. Não é fácil identificar quais. No dia do casamento tipicamente não temos mais de 15 a 30 minutos para fazer as fotografias editoriais do final da tarde. Por essa razão, algumas das fotografias editoriais que mais gostei de fotografar foram tiradas em sessões fotográficas, onde tenho zero stress para deixar a criatividade fluir, todo o tempo para experimentar e posso escolher um local bonito e a luz perfeita.
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Estilo Documental
Chegamos ao estilo fotográfico com o qual mais me identifico – o documental!
Este estilo tem a sua génese no fotojornalismo, que procura documentar a realidade sem a intervenção do fotógrafo. No entanto é muito mais do que apontar a máquina e disparar! Para se tirar uma boa fotografia documental é preciso conhecer o casal (para saber quem e o que é importante), ter o olho treinado para antever o momento que vai acontecer e conseguir captá-lo com um bom enquadramento, que seja coerente com a história que queremos contar. Requer muita análise e uma capacidade de concentração constante.
Mais do que uma fotografia bonita, a fotografia documental tem que ser importante!
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Então há casamentos com um só estilo de fotografia?
Não! Todos os casamentos (salvo raras excepções) têm as três componentes: todos têm a componente documental, por exemplo durante a cerimónia. Muitos têm o estilo tradicional com as fotografias dos convidados. Existe também a componente editorial, com as fotografias do pôr-do-sol.
O que varia muito é a quantidade e qualidade de cada componente. Por exemplo, um fotógrafo tradicional poderá fotografar principalmente os noivos e os convidados a olhar para a câmara. Um fotógrafo editorial poderá pedir aos noivos certas poses ao longo de todo o dia e mais tempo ao pôr-do-sol. Um fotógrafo documental poderá dar mais relevância ao lado humano e menos a fotografias pedidas, de pormenores e de pose.
Este artigo procura precisamente chamar a atenção para estas diferenças. Cada casal tem gostos diferentes e como tal deve procurar o fotógrafo que junta estes ingredientes na proporção perfeita para o seu gosto!
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A minha visão – e o meu estilo fotográfico
Nos pontos anteriores descrevi os estilos de fotografia de casamento com base na minha experiência a fotografar casamentos a tempo inteiro nos últimos 8 anos. No entanto não queria terminar este artigo sem dar a minha opinião.
Quando comecei a fotografar casamentos sabia que tinha que experimentar vários estilos até encontrar aquele com o qual me identificasse. Queria tirar fotografias bonitas e ao chegar a casa notava que essas fotografias eram quase sempre da sessão ao pôr-do-sol. Depois comecei a fazer sessões de casados, em que o casal se voltava a vestir de noivos. Passei a usar essas fotografias, que eram em maior número e mais bonitas. Ao mesmo tempo que crescia o meu número de seguidores comecei a notar que a maior parte das fotografias que tirava no casamento não mostravam a essência do dia, nem contavam uma história bonita e coerente. Entregava demasiadas fotografias e tornava-se monótono vê-las todas. Não sabia quem eram as pessoas mais importantes para os noivos e fotografava antes quem era bonito e se ria muito. Nessa altura mostrávamos o nosso trabalho no Facebook, o Instagram ainda estava numa fase muito embrionária. Foi com base nestas fotografias, bonitas mas sem valor, que vi o número de seguidores no Facebook crescer para lá dos 3000. Não era um fotógrafo de casamentos mas sim um fotógrafo que fotografava noivos. E os seus amigos giros.
Em 2017, no meu quarto ano como fotógrafo de casamentos, comecei a esforçar-me mais por contar a histórias dos casais e menos em tirar fotografias para os “likes”. Comecei a fazer os primeiros casamentos com os quais me senti realmente satisfeito. Comecei a escolher melhor as fotografias e a entregar menos, para que a história fosse interessante em vez de chata. No início de 2018 descobri o site This is Reportage, que tinha sido lançado uns meses antes. É um site dedicado à fotografia documental de casamentos e que cresceu imenso desde então. Decidi tornar-me membro e reparei que, apesar de (finalmente) gostar da minha fotografia de casamento, não tinha nenhuma que eu achasse que podia competir com a qualidade dos que lá estavam.
Foi a partir de 2018 que começou o meu percurso para me tornar um bom fotógrafo documental. Acabei o ano de 2021 listado no site This is Reportage em 6º lugar a nível nacional e em 18º lugar de storytellers a nível mundial.
Quem me segue nas redes sociais sabe que não sou muito activo. Passo dias e dias sem ir ao Instagram. A razão é simples: sempre que lá vou vejo muitas das fotografias que eu tirava nos tempos do Facebook – quase só fotografias editoriais, algumas tiradas naqueles breves momentos ao final do dia, outras tiradas em sessões fotográficas. É raro ver fotografias que mostrem mesmo o casamento.
No início de 2020, antes da pandemia nos bater à porta, combinei um encontro de vários profissionais de casamentos no Cais do Sodré. Conheci alguns fotógrafos que só tinha visto online. Um deles perguntou-me qual a minha conta do Instagram para ver o meu trabalho. “És muito corajoso”, disse ele. “Tens muitas fotografias tiradas durante o casamento, que saem dos moldes das fotografias bonitas que se costuma ver”. Percebi o que ele quis dizer. Sai dos moldes e como tal também tem menos likes e visualizações. Mas sinto-me cheio com o trabalho que faço e todos os meus casais adoram a reportagem que faço.
Em Portugal existem mais de 2000 fotógrafos de casamentos, no entanto apenas 26 estão listados no site This is Reportage. Suponho que nem todos os fotógrafos com alma “documental” estão nesse site, mas não conheço nenhum que não esteja lá representado.
Para encerrar este post que já vai longo, deixo esta reflexão. Há muito talento em Portugal, muitas fotografias bonitas e felizmente, muito mercado para a fotografia de casamento. É ótimo que hoje temos temos tanta variedade fotográfica, com fotógrafo reconhecidos a nível internacional. Só acho pena que as fotografias de casamento que se vêm nas redes sociais sejam maioritariamente editoriais, sinto que embora tenham a ver com o sector dos casamentos, não representam tanto quanto podiam a autenticidade do dia.
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Olá João, que tal?
Há que tempos que não trocamos umas linhas.
Acabei de tropeçar neste teu post, a propósito de estilos de casamento – achei-o muito pertinente, obrigado!
Susana, obrigado pelo comentário!
Sempre gostei das nossas interações, é pena que não trocamos ideias há algum tempo. Temos que corrigir isso!
Este tipo de artigos dá-me tanto ou mais gozo a fazer que os das reportagens fotográficas, tenho imensas ideias de artigos de opinião para escrever mas falta sempre algo – talvez tempo, vontade, mood certo. Mas sei que isto são desculpas e que tenho que conseguir vencer esta inércia. É uma luta transversal a tantas outras coisas que gosto de fazer mas que me luto comigo próprio para começar. O teu comentário ajudou-me um pouco a vencer esta inércia, por isso deixo um novo obrigado também por isso.